Apocalipse, Capítulo 18 Explicado


As filhas de Babilônia e sua condenação 

Versículos 1-3 — “E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e aborrecível! Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição. Os reis da terra se prostituíram com ela. E os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.”

    Nestes versículos é simbolizado algum movimento de grande poder. (Ver os comentários sobre o versículo 4 deste capítulo). A consideração de alguns fatos guiar-nos-á seguramente à aplicação. Em Apocalipse 14 tivemos uma mensagem anunciando a queda de Babilônia. “Babilônia” é um termo que abrange não só o paganismo e a Igreja Católica Romana, mas também corpos religiosos que têm saído dela, trazendo consigo muitos dos seus erros e tradições.
    Uma queda espiritual — A queda de Babilônia aqui mencionada não pode ser uma destruição literal, pois devem ocorrer eventos em Babilônia, após a sua queda, que inviabilizam por completo essa interpretação. Por exemplo, há filhos de Deus ali após a sua queda, os quais são chamados a sair, para que não recebam suas pragas, que abrangem a sua destruição literal. É, portanto, uma queda espiritual, porque o resultado dela é que Babilônia se torna habitação de demônios e refúgio de todo espírito imundo, e ninho de toda ave imunda e aborrecível. Estas são terríveis descrições de apostasia, e demonstram que, como consequência da sua queda, Babilônia acumula pecados até o céu e se torna sujeita aos juízos de Deus, que não podem mais ser retidos.
    Visto que a queda aqui é uma queda espiritual, deve aplicar-se a algum ramo de Babilônia, que não seja sua divisão pagã nem papal, porque desde o começo da sua história o paganismo tem sido uma religião falsa e o papado uma religião apóstata. Além disso, como se diz que esta profecia ocorre pouco antes da destruição definitiva de Babilônia, este testemunho não pode aplicar-se a outras organizações religiosas a não ser às que saíram daquela igreja [Católica]. Elas começaram com a Reforma Protestante. Correram muito bem durante algum tempo e tiveram a aprovação de Deus, mas ao manter algumas das doutrinas errôneas de Roma, e devido ao fato de ter-se encerrado em suas próprias crenças, não avançaram com a luz progressiva da verdade profética. Tal atitude será finalmente o motivo pelo qual desenvolverão um caráter tão odioso aos olhos de Deus, como o da igreja da qual se retiraram. Alexander Campbell, fundador da Igreja dos Discípulos de Cristo [242]diz:

“Há três séculos tentou-se reformar o papado na Europa. A tentativa acabou numa hierarquia protestante e num enxame de dissidentes. O protestantismo transformou-se no presbiterianismo, este se transformou no congregacionalismo, e deste saiu a Igreja Batista, etc. O metodismo tentou reformar a todos, mas reformou-se a si próprio em muitas formas de Wesleyanismo. [...] Todos eles conservam no seu seio, em suas organizações eclesiásticas, culto, doutrinas e observâncias, várias relíquias do papado. São, quando muito, uma reforma do papado e apenas reformas parciais. As doutrinas e tradições dos homens ainda continuam a impedir o poder e progresso do Evangelho em suas mãos.” [243]

    Podíamos apresentar uma quantidade de depoimentos semelhantes, de pessoas que ocupam altos cargos nessas várias denominações, não com o propósito de criticar, mas com o senso vívido da condição terrível em que caíram essas igrejas. O termo “Babilônia”, aplicado a elas, não é um vocábulo de acusação e vergonha, mas serve para exprimir apenas a confusão e a diversidade de sentimento que existe entre elas. Babilônia não necessitava cair, mas podia ter sido curada (Jeremias 51:9) pela recepção da verdade, mas infelizmente a rejeitou.
    Ao não aceitar a verdade da segunda vinda de Cristo e ao recusar a mensagem do primeiro anjo, as igrejas deixaram de andar na luz progressiva que, vinda do trono de Deus, brilhava sobre seu caminho. Como resultado, confusão e dissensão reinam dentro de seus limites, e o mundanismo e orgulho estão afogando o crescimento de toda planta celestial.
    Mas neste capítulo é novamente mencionada a queda de Babilônia. Na referência anterior tal queda seguia a proclamação da mensagem do primeiro anjo, e a declaração era então: “Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios.” Aqui se percebe um passo posterior no desenvolvimento da apostasia, e as páginas seguintes revelarão a extensão desta parte final da queda de Babilônia.
    Quando essa queda deve ocorrer — A que tempo se aplicam esses versículos? Para quando é esperado esse movimento? Se a atitude aqui tomada é correta, a saber, que essas igrejas, ou esse ramo de Babilônia, experimentaram uma queda espiritual pela rejeição da mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14, a proclamação feita neste capítulo não podia ter ocorrido antes do evento mencionado naquele capítulo. É dada, pois, respectivamente com a mensagem da queda de Babilônia, de Apocalipse 14, ou numa época posterior. Não pode ser dada ao mesmo tempo, porque a primeira apenas anuncia a queda de Babilônia, enquanto esta acrescenta vários detalhes que naquele tempo ainda não se tinham cumprido ou estavam 
ocorrendo. E como temos de atribuir o anúncio apresentado neste capítulo a um tempo posterior a 1844, em que saiu a mensagem anterior, perguntamos: Já foi dada alguma mensagem desde esse tempo até o atual? A resposta tem de ser negativa. Agora estamos ouvindo a mensagem do terceiro anjo, que é a última que devia ser apresentada antes da vinda do Filho do homem. À medida que a decadência vai aumentando no mundo religioso, a mensagem tem sido reforçada pela advertência de Apocalipse 18:1-4, que constitui um aspecto da terceira mensagem que deve aparecer quando esta mensagem for proclamada com poder, e toda a Terra for iluminada com a sua glória.
    A obra do espiritismo — A última fase da obra apresentada no versículo 2 está em vias de cumprimento, e será completada em breve, por meio do espiritismo. Os agentes que em  Apocalipse 16:14 são chamados “espíritos de demônios, que fazem prodígios”, estão secreta mas rapidamente abrindo caminho nas várias denominações religiosas acima referidas, porque os seus credos têm sido formulados sob a influência do vinho (erros) de Babilônia, um dos quais é que os espíritos de nossos amigos mortos estão conscientes, inteligentes e ativos em volta de nós.
  Um significativo aspecto da obra do espiritismo atual é o traje religioso que está assumindo. Deixou para trás seus mais grosseiros princípios, que até agora eram visíveis em larga escala, e passou a assumir um aspecto religioso como o de qualquer outra denominação. Fala do pecado, do arrependimento, da expiação, da salvação por meio de Cristo, numa linguagem quase tão ortodoxa como a dos cristãos genuínos. Sob o disfarce dessa confissão, o que o impede de se entrincheirar em quase todas as denominações da cristandade? Mostramos que a base do espiritismo — a crença na imortalidade da alma humana — é um dogma fundamental dos credos de quase todas as igrejas. O que poderá salvar a cristandade da sua influência sedutora? Vemos aqui outro triste resultado de se rejeitar as verdades oferecidas pelas mensagens de Apocalipse 14. Se as igrejas tivessem recebido essas mensagens, teriam sido protegidas contra esse engano, porque entre as grandes verdades defendidas pelo movimento religioso que se produziu durante o grande despertar adventista, encontra-se a importante doutrina de que a alma do homem não possui natureza imortal; de que a vida eterna é um dom de Jesus Cristo, e pode ser obtida unicamente por Seu intermédio; que os mortos estão inconscientes; e que as recompensas e castigos do mundo futuro são posteriores à ressurreição do corpo e ao dia do juízo.
    Essas verdades desfecham um golpe mortal na primeira pretensão vital do espiritismo. Que entrada pode aquela doutrina ter em qualquer mente fortificada por essa verdade? O espírito vem, e pretende ser a alma ou o espírito desencarnado de um morto. Mas enfrenta o conhecimento do fato de que aquilo não é uma espécie de alma, ou espírito, que algum ser humano possua; que “os mortos não sabem coisa nenhuma”; que esta sua primeira pretensão não passa de uma mentira, e que as credenciais que apresenta mostram que pertence à sinagoga de Satanás. Assim, é imediatamente rejeitado, e eficazmente impedido o mal que desejava fazer. Mas a grande massa de religiosos opõe-se à verdade que os teria assim protegido, e por isso expõem-se a esta última manifestação de astúcia satânica.
    A condescendência moderna — E enquanto o espiritismo está assim operando, manifestam-se aterradoras transformações nas altas esferas de algumas denominações. A incredulidade da época atual, sob os sedutores nomes de “ciência”, “alta crítica”, “evolução”e “condescendência moderna” estão penetrando na maioria dos colégios teológicos do país e realizando graves incursões nas igrejas protestantes. 
    Em maio de 1909, o escritor Harold Bolce, chamou a atenção do público para essa situação. Depois de investigar o caráter do ensino de algumas das principais universidades do país, apresentou os resultados no Cosmopolitan Magazine, cujo redator comentou:

“O que o Sr. Bolce apresenta aqui é deveras assombroso. Baseado nas matérias ensinadas nos colégios americanos, um movimento dinâmico está enfraquecendo os fundamentos antigos e promete criar um modo revolucionário de pensar e viver. Os que lidam com os grandes colégios do país ficarão atônitos ao conhecer os credos fomentados pelo corpo docente de nossas grandes universidades. Em centenas de aulas está-se ensinando diariamente que o Decálogo não é mais sagrado do que um resumo qualquer; que a família é uma instituição condenada a desaparecer; que não há males absolutos; que a imoralidade é simplesmente uma infração das normas aceitas pela sociedade. [...] Estes são alguns dos ensinos revolucionários e sensacionais que se apresentam com garantia acadêmica aos milhares de estudantes dos Estados Unidos.” [244]

-----> (Os trechos abaixo contém uma controvérsia entre as duas versões utilizadas no blog, a destacada em cinza consta no original, enquanto que na "Edição Vida Plena" esse trecho foi suprimido e acrescentado o texto em vermelho claro.)

    Ao mesmo tempo, o Independent, de Nova Iorque, expoente de alta critica, referia-se as condições nas igrejas batistas e presbiterianas, com o anuncio de que “os hereges ocuparam o campo em Chicago e Nova Iorque”. Isto se mostrou pela ação dos seus ministros dessas cidades, recusando excluir do ministério adeptos das mais claras heresias. “Foi uma semana ruim para a velha guarda”, dizia o The Independent, “e estas ocorrências dão prova de uma poderosa mudança de opinião sobre questões de teologia nos últimos dez ou vinte anos”.
    Continuando dizia o mesmo jornal: “A forte largueza de tolerância que estes corpos batistas e presbiterianos estão mostrando, é pouco menos que revolucionária. Começou com o estudo cientifico e histórico da Bíblia. Quando descobrimos que o mundo tinha mais de 6.000 anos; que não houve nenhum dilúvio universal há quatro mil anos; que Adão não foi feito diretamente do pó e Eva de sua costela; e que a torre de Babel não foi a ocasião da diversificação das línguas, avançamos de mais para parar. O processo do criticismo estendeu-se do Gênesis ao Apocalipse, sem temor da maldição que vem no fim do ultimo capitulo. Não podia parar com Moisés e Isaías; tinha de incluir Mateus, João e Paulo. Cada um deles tinha de ser joeirado. Já deixaram de ser tomados como inquestionáveis autoridades finais, pois que a inspiração plenária seguiu-se à inspiração verbal logo que o primeiro capitulo de Gênesis deixou de ser tomado como história verdadeira. Os milagres de Jesus tiveram de sofrer a prova da mesma maneira que os de Elias. A data e objetivo do evangelho de João tiveram de ser investigados tão historicamente, como a profecia de Isaías; e a conclusão da crítica histórica teve de ser aceita sem consideração pelas antigas teologias. Chegamos exatamente a esta condição; e há repetidas provas de que ela marca uma época, uma revolução, no pensamento teológico. Isto é o conseguimos saber em Chicago e Nova-Iorque por meio de duas denominações militantes, como são a batista e a presbiteriana.
    Outro escritor assim apresenta a atitudes das igrejas sobre missões:

Não só representam uma minoria da igreja os membros que dão conscienciosamente, 
mas também mudou a crença quanto às missões. As comissões missionárias podem buscar convencer-se de que as baixas de suas entradas deve-se aos altos impostos, e a diminuição das rendas, mas os pastores que lidam com os doadores reconhecem que aumentou em forma definida a resistência a fazer doações destinadas a estender o Evangelho além de nossas fronteiras. Aumenta o número de membros que são leais em outras coisas, mas anunciam persistentemente que “não creem nas missões”. O calibre desses oponentes nos faz reflexionar. [...] 

A média de ofertas por pessoa em 22 comunhões protestantes é de $11,28 para os gastos da congregação, e de $ 2,19 para toda obra local. [...]

A média dos donativos que não se destinam à obra do próprio país oscila entre 29,69% do ingresso total, que é o que resulta da Igreja Presbiteriana Unida, até 11,14, 12,30 e 10,02% nas últimas três igrejas da lista. Não admira que somos instados a “voltar a pensar nas missões” (Felipe Endecott, Osgood, na revista The Atlantic Monthly, janeiro, 1940, nota de rodapé da p. 56).

    Segundo declarações autorizadas, estes são os resultados:

Enquanto o zelo missionário vai desvanecendo, a situação se complica ainda mais pelo fato agora revelado de que outros missionários que os evangélicos eram enviados aos campos estrangeiros. Estes eram os “aventureiros” de uma “nova civilização”, os “criadores de um mundo novo”, movidos principalmente por uma paixão social. [...] 

A evangelização mundial tornou a receber um golpe cruel nas comprovações críticas do relatório de investigação apresentado por uma comissão leiga que estudou as missões no estrangeiro. Embora o objeto desta empresa, que iniciou em 1930 e continuou até 1931 era “ajudar os leigos para determinar qual deve ser sua atitude para com as missões no estrangeiro, por uma nova consideração das funções de tais missões no mundo moderno” com o objetivo, sem dúvida, não apenas de reformar as missões como aumentar as receitas financeiras, tão-somente se conseguiu maiores controvérsias e menos doações (The Watchman Examiner, editorial, 1/1/1940, p. 105).

    Resultado da apostasia — Com tão lamentável maneira de ver e sob a direção de tais homens, quanto tempo levará ainda para que Babilônia se encha de espíritos imundos, e de aves imundas e aborrecíveis? Que progresso já se fez neste sentido! Se os piedosos pais e mães da geração que viveu imediatamente antes de ser dada a mensagem do primeiro anjo, pudessem ouvir o ensino e compreender a condição atual do mundo religioso, como ficariam atônitos com o terrível contraste entre o seu tempo e o nosso, e deplorariam a triste degenerescência! Não, o Céu não há de deixar tudo isto passar em silêncio. Está sendo feita uma poderosa proclamação, chamando a atenção de todo o mundo para as terríveis contas na acusação contra as organizações religiosas infiéis, para que a justiça dos juízos que se seguem possa aparecer claramente.  (trecho retirado do original pela editora vida plena)
-----------
    Os resultados do “liberalismo ou condescendência moderna” têm sido vistos com muita clareza na obra das igrejas protestantes. Escritores pertencentes às diversas comunidades têm francamente chamado a atenção para a falta de interesse na pregação do Evangelho e para o declínio das missões em particular. Um deles assim se  expressou:

“Suspeito que em sua maioria nossas igrejas se tenham tornado fracas, inseguras quanto a seu propósito, sem vida, caracterizadas por uma respeitabilidade letal e falta de senso de sua missão. A média das congregações preocupa-se mais em obter dinheiro para pagar o pastor e manter suas propriedades em bom estado de conservação. Diminuiu muito a profunda convicção de que ‘temos uma história para contar às nações’. No que diz respeito ao mundo, o Evangelho da salvação e a evangelização se dissolveram em uma ética satisfatória e responsável, e a igreja é uma sociedade de pessoas boas as quais desejam que as bênçãos da religião as acompanhem durante seus momentos de exaltação ou de pesar, mas se conformam em ausentar-se da igreja e de sua missão divina, contanto que possam revestir-se da aura de respeitabilidade que acompanha a condição de membro da igreja. É muito dura esta acusação?” [245] (trecho acrescentado pela editora vida plena)
-------
    O versículo três demonstra a ampla influência de Babilônia, e o mal que resultou e resultará do seu procedimento, e daí a justiça do seu castigo. Os mercadores da Terra enriqueceram-se com a abundância das suas delícias. Quem toma a chefia de todas as extravagâncias do século? Quem enche as suas mesas com os mais ricos e escolhidos manjares? Quem são os primeiros em extravagâncias no vestuário e em todos os trajes preciosos? Quem são os que constituem a própria personificação do orgulho e arrogância? Não são os membros da igreja, os que quase sempre tomam a dianteira na busca de coisas materiais que fomentam o orgulho da vida? 
    Mas há um detalhe capaz de redimir este quadro. Embora Babilônia tenha degenerado como um corpo, há exceções à regra geral, porque Deus tem ainda um povo ali, e Sua atenção tem sido focada neles até que sejam chamados a sair da comunhão dessas igrejas. Nem será necessário esperar muito por esse chamado. Babilônia se tornará em breve tão infectada pela influência desses maus agentes, que sua condição será completamente manifesta a todos os de coração sincero, e será preparado o caminho para a obra a que o apóstolo se refere.

Versículos 4-8 — “E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela. Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro. Quanto ela se glorificou e em delícias esteve, foi-lhe outro tanto de tormento e pranto, porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, não sou viúva e não verei o pranto. Portanto, num dia virão as suas pragas: a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no fogo, porque é forte o Senhor Deus, que a julga.”

    A voz que vem do Céu indica que será uma mensagem de poder acompanhada de glória celestial. Quão marcada se torna a interposição do Céu, e como se multiplicam os agentes para a realização da obra de Deus à medida que a grande crise se aproxima! Essa voz do Céu é chamada “outra voz”, mostrando que um novo agente é aqui introduzido. Temos agora cinco mensageiros celestiais expressamente mencionados como estando empenhados nesta última reforma religiosa. São eles: o primeiro, segundo e terceiro anjos de Apocalipse 14; o quarto mensageiro: o anjo do versículo um deste capítulo; e quinto, o agente indicado pela “voz” do versículo quatro, que estamos considerando. Três destes estão já em operação, o segundo anjo uniu-se ao primeiro, e a eles o terceiro. O primeiro e o segundo não cessaram. Os três estão agora unidos para proclamar uma tríplice mensagem. O anjo do versículo um está efetuando a sua missão, à medida que as condições que exigem sua obra vão se cumprindo. O apelo divino para sair de Babilônia deve tomar lugar em conexão com esta obra.
    “Sai dela, povo meu.” — Já se apresentou prova para mostrar que as mensagens dos versículos um e dois deste capítulo devem ser dadas em conexão com a tríplice mensagem. Pode-se fazer uma ideia da sua extensão e poder pela descrição do anjo aí dada. A primeira mensagem diz-se que é proclamada com “uma grande voz”. O mesmo é também dito da terceira mensagem, mas este anjo, em vez de simplesmente voar “pelo meio do céu”, como os outros, diz-se que foi visto “descer do Céu”. Ele vem com a mensagem mais direta. Tem “grande poder”, e a Terra é “iluminada com a sua glória”. Em nenhuma outra parte de toda a Bíblia existe tal descrição de uma mensagem vinda do Céu ao homem. Esta é a última, e vem com grande glória e raro poder. É uma terrível hora em que o destino do mundo deve ser decidido, uma crise soleníssima em que toda uma geração da família humana deve cruzar os limites do tempo de graça ao soar aos seus ouvidos a última nota de misericórdia.
    Nesse tempo o mundo não deve ser deixado sem aviso. Tão amplamente deve ser o grande fato anunciado, que ninguém possa com razão alegar ignorância da ruína iminente. Toda desculpa deve ficar eliminada. Hão de ser vindicadas a justiça, paciência e tolerância de Deus em retardar a vingança até que todos tenham tido oportunidade para receber o conhecimento da Sua vontade, e tempo para se arrepender. É enviado um anjo, revestido do poder celestial. Está envolto pela luz que rodeia o trono. Vem à Terra. Ninguém, senão os espiritualmente mortos, sim, os “duas vezes mortos e desarraigados”, deixarão de compreender sua presença. A luz brilha por toda parte. Os lugares escuros são iluminados. Enquanto sua presença dissipa as sombras, a sua voz como trovão profere um aviso. Clama “fortemente”. Não é nenhum anúncio secreto; é um clamor, um forte clamor, um brado com grande voz.
    Os defeitos fatais da profissão de uma igreja mundana são de novo apontados. Seus erros são, uma vez mais, e pela última vez, expostos. A incapacidade do presente padrão de piedade para enfrentar a crise final é salientada para além de todo erro. A conexão inevitável entre os seus acariciados erros e a irremediável e eterna destruição é anunciada até que a Terra ressoa com o clamor. Entretanto, os pecados da grande Babilônia sobem até o Céu, e a lembrança das suas iniquidades chega a Deus. Aumenta a corrente da vingança. Logo explodirá sua tempestade sobre a grande cidade de confusão e a altiva Babilônia cairá como uma pedra de moinho é jogada nas profundezas do mar. Subitamente, outra voz soa do Céu: “Sai dela, povo Meu!” Os humildes, sinceros, dedicados filhos de Deus, que ainda ficam, e que suspiram e clamam por causa das abominações feitas na Terra, atendem àquela voz, lavam suas mãos dos pecados dela, separam-se de sua comunhão, escapam e são salvos, enquanto Babilônia se torna a vítima dos justos juízos de Deus. Estes são momentos comovedores para a igreja. Preparemo-nos para a crise.
    O fato de o povo de Deus ser chamado a sair para não se tornar participante dos seus pecados, mostra que só a partir de certa altura é que o povo se torna culpado de continuar em contato com Babilônia.
    Os versículos seis e sete constituem uma declaração profética de que ela será recompensada ou punida segundo as suas obras. Tenha-se presente que este testemunho se aplica àquela parte de Babilônia que está sujeita à queda espiritual. Como já indicamos, deve aplicar-se especialmente às “filhas”, às denominações que persistem em apoiar-se nos traços pessoais da “mãe”, e conservar a semelhança de família. Estas, como já indicamos, hão de tentar uma perseguição devastadora contra a verdade e o povo de Deus. São elas que formarão a “imagem da besta”. Experimentarão algo que será para elas uma nova experiência: o uso do braço civil para impor os seus dogmas.
    E sem dúvida é esta primeira intoxicação de poder que leva este ramo de Babilônia a orgulhar-se em seu coração, dizendo: “Estou assentada como rainha, e não sou viúva”, isto é, não sou “despojada” ou destituída de poder, como tenho sido, mas agora domino como rainha. Com expressões blasfemas, se orgulha de que Deus está aparentemente na Constituição, e a igreja está entronizada, e daí em diante há de ter o governo. A expressão:
 “Tornai-lhe a dar, como ela vos tem dado”, parece mostrar que o tempo para ser dada esta mensagem e para os santos serem chamados, será quando ela começar a levantar contra eles o braço da opressão. Ao encher a taça da perseguição aos santos, o anjo do Senhor a perseguirá (Salmos 35:6). Os juízos do Alto trarão sobre ela, num duplo grau (“pagai-lhe em dobro”) o mal que ela pensou trazer sobre os humildes servos do Senhor. 
    No dia em que caírem as pragas mencionadas no versículo oito, deve ser um dia profético, ou pelo menos não pode ser um dia literal, porque seria impossível que a fome viesse nessa extensão de tempo. As pragas de Babilônia são, sem dúvida, os sete últimos flagelos, que já foram examinados anteriormente neste livro. O que se deduz claramente da linguagem deste versículo, em relação com Isaías 34:8, é que esses terríveis castigos durarão um ano.

Versículos 9-11 — “E os reis da terra, que se prostituíram com ela e viveram em delícias, a chorarão e sobre ela prantearão, quando virem a fumaça do seu incêndio. Estarão de longe pelo temor do seu tormento, dizendo: Ai! Ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! Pois numa hora veio o seu juízo. E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra, porque ninguém mais compra as suas mercadorias.”

    Uma justa retribuição — O derramamento da primeira praga deve resultar numa completa suspensão do tráfico dos artigos de luxo em que Babilônia se distingue. Quando os mercadores dessas coisas, que são em grande parte cidadãos dessa cidade simbólica, e que enriqueceram com o tráfico dessas coisas, se veem, de repente, a si e aos seus vizinhos, feridos por chagas em putrefação, todo negócio suspenso, e vastos carregamentos de 
mercadoria inativos, sem ninguém que os compre, levantam as suas vozes em lamentação pelo destino dessa grande cidade. Se há alguma coisa que arranque dos homens desta geração um sincero grito de angústia, é o que diz respeito a seus tesouros. Essa retribuição é muito adequada. Os que pouco antes haviam publicado um decreto para que os santos de Deus não comprassem nem vendessem, encontram-se agora sob a mesma restrição, mas numa proibição muito mais real e eficiente. 
    Poderá perguntar-se como pessoas envolvidas na mesma calamidade podem estar de longe e lamentar-se. Devemos lembrar-nos de que essa desolação é apresentada sob a figura de uma cidade visitada com a destruição. Se a calamidade viesse sobre uma cidade literal, seria natural que os seus habitantes fugissem dessa cidade, caso tivessem oportunidade, e permanecessem ao longe a lamentar a sua destruição. Proporcional ao seu terror e assombro perante o mal a ponto de ocorrer, seria a distância a que poriam entre si e sua amada cidade. A figura que o apóstolo usa não seria completa sem um detalhe dessa natureza, e assim a usa, não para dar a entender que o povo está a fugir literalmente da cidade simbólica, o que seria impossível, mas para significar o seu terror e assombro ao sobrevirem os juízos.

Versículos 12 e 13 — “Mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda madeira odorífera, e todo vaso de marfim, e todo vaso de madeira preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore; e cinamomo, e cardamomo, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e flor de farinha, e trigo, e cavalgaduras, e ovelhas; e mercadorias de cavalos, e de carros, e de corpos e de almas de homens.”

    A mercadoria de Babilônia — Nestes versículos temos um elenco ou uma lista da grande mercadoria de Babilônia, que inclui tudo o que pertence ao viver luxuoso, à pompa e à ostentação mundana. Está incluído todo tipo de tráfico mercantil. A declaração acerca de “escravos e até almas humanas” pode pertencer mais particularmente ao domínio espiritual e ter referência à escravidão de consciência pelos credos dessas corporações, que em alguns casos é mais opressiva do que a escravidão física.

Versículo 14 — “E o fruto do desejo da tua alma foi-se de ti, e todas as coisas gostosas e excelentes se foram de ti, e não mais as acharás.”

    Glutonaria censurada — Os frutos aqui mencionados, segundo o original, são “frutos outonais”. Nisto encontramos uma profecia de que as “delícias da estação”, com que o comilão delicia o apetite, desaparecerão de repente. Esta é, sem dúvida, a escassez, que é o resultado da quarta praga (Apocalipse 16:8).

Versículos 15-19 — “Os mercadores destas coisas, que com elas se enriqueceram, estarão de longe, pelo temor do seu tormento, chorando, e lamentando, e dizendo: Ai! Ai daquela grande cidade, que estava vestida de linho fino, de púrpura, de escarlata, adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas! Porque numa hora foram assoladas tantas riquezas. E todo piloto, e todo o que navega em naus, e todo marinheiro, e todos os que negociam no mar se puseram de longe. E, vendo a fumaça do seu incêndio, clamaram, dizendo: Que cidade é semelhante a esta grande cidade? E lançaram pó sobre a cabeça e clamaram, chorando, e lamentando, e dizendo: Ai! Ai daquela grande cidade, na qual todos os que tinham naus no mar se enriqueceram em razão da sua opulência! Porque numa hora foi assolada.”

    Emoções dos ímpios — O leitor pode imaginar facilmente a causa dessa voz universal de choro, lamentações e ais. Imagine-se a praga das chagas afligindo os homens, os rios convertidos em sangue, o mar como o sangue de um morto, o Sol abrasando os homens com fogo, o tráfico dos mercadores aniquilado, e eles sem poder obter, com toda a sua prata e ouro, a libertação que anelam, e não há que admirar-nos de suas exclamações de angústia, e que pilotos e marinheiros se unam à lamentação geral. Muito diferente é a emoção que hão de sentir os santos, como vemos pelo seguinte testemunho:

Versículos 20-24 — “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas, porque já Deus julgou a vossa causa quanto a ela. E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada. E em ti não se ouvirá mais a voz de harpistas, e de músicos, e de flauteiros, e de trombeteiros, e nenhum artífice de arte alguma se achará mais em ti; e ruído de mó em ti se não ouvirá mais; e luz de candeia não mais luzirá em ti, e voz de esposo e de esposa não mais em ti se ouvirá; porque os teus mercadores eram os grandes da terra; porque todas as nações foram enganadas pelas tuas feitiçarias. E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra.”

    Emoções dos justos — Os apóstolos e profetas são aqui chamados a alegrar-se pela destruição da grande Babilônia, porque em relação com esta destruição é que eles hão de ser libertos do poder da morte e da sepultura pela primeira ressurreição.
    Como uma grande pedra de moinho, Babilônia cai para não mais se levantar. As várias artes e artifícios que têm sido empregados em seu meio e têm nutrido os seus desejos, não serão mais traficados. A espetaculosa música que tem sido empregada em culto imponente, porém formal e sem vida, é para sempre silenciada. As cenas de festividade e alegria, quando o noivo e a noiva são levados perante os seus altares, não serão mais testemunhadas.
   Suas feitiçarias constituem seu crime principal, e a feitiçaria é uma prática que está compreendida no moderno espiritismo. “E nela se achou sangue [...] de todos os que foram mortos sobre a terra.” Daqui se conclui que Babilônia existiu sempre, desde que a primeira religião falsa foi introduzida no mundo. Nela encontrou-se, em todos os tempos, oposição à obra de Deus, e perseguição ao Seu povo. Em referência à culpabilidade da última geração, ver os comentários sobre Apocalipse 16:6.


Referências bibliográficas

[242] Os “Discípulos de Cristo”: É uma denominação cristã protestante de linha oficial que ensina que o “discípulo” é aquele que segue a outrem em suas ideias, atitudes, posições ideológicas. Os Discípulos mais conhecidos são os doze apóstolos: André, Bartolomeu, Filipe, João, Judas Iscariotes, Judas Tadeu, Mateus, Pedro, Simão, Tiago, Tiago, Tomé. Os relatos bíblicos mostram que todos que estavam com Jesus e O seguiam eram seus discípulos (Mateus 8:23). Este movimento protestante teve suas origens no movimento restauracionista de Thomas Campbell e Alexander Campbell [de onde vem a expressão norte-americana “Campbelita”] na região dos Apalaches no início do século XIX, visando restaurar o cristianismo primitivo e acabar com o denominacionalismo. Os Discípulos de Cristo não possuem credos mais específicos para além dos rituais e credos mais básicos presentes na Bíblia; assim em comum: creem na Bíblia, praticam o batismo por imersão, celebram a santa ceia aberta a todo e qualquer cristão semanalmente presidida por membros leigos. Cada congregação é autônoma. Estão presentes em varias cidades do Brasil. Alguns membros famosos são:
→ J. William Fulbright, Senador do Arkansas;
→ James Garfield, presidente dos EUA, ministro ordenado dos Discípulos de Cristo;
→ David Lloyd George, Primeiro-ministro do Reino Unido;
→ Lyndon B. Johnson, presidente dos EUA, foi ministro de jovens dessa denominação;
→ Ronald Reagan, presidente dos EUA, embora fosse também um frequentador da Igreja Presbiteriana.
Para saber mais:
→ [www.movimentoderestauracao.com Movimento de Restauração] - MR, o primeiro site latino-americano sobre o Movimento Stone-Campbell, que deu origem às Igrejas Cristãs, Igrejas de Cristo e Discípulos de Cristo. (esse site não existe mais, mas encontrei outro que pode ser acessado nesse link: http://www.institutostonecampbell.com.br/historia-e-teologia-do-movimento-de-restauracao
→ CAMPBELL, Thomas (1809). The Declaration and Address (“Declaração e Palestra”). Disponível em: <http://goo.gl/7whg4q> Acesso em 22 set. 2015.
→ Site da Wikipédia: <https://goo.gl/xy9emb>. Procure o artigo “Discípulos de Cristo”. Acesso em 22 set. 2015.
[243] CAMPBELL, Alexander. Christian Baptism, p. 15.
[244] Cosmopolitan Magazine, maio, 1909, p. 665.
[245] WELCH, Dale D. The Presbyterian, 9 de janeiro de 1941, p. 3.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PROIBIDO POSTAGENS DE LINKS DE OUTROS BLOGS E COMUNIDADES.
- Seu comentário precisa ser relacionado com o assunto do post;
- Propagandas, spam serão deletados.
- Leia os comentários anteriores, procure se não há resposta já publicada.
- Fique a vontade para comentar, mas seja sempre educado (a)!
- Em caso de dúvidas, tente dar o máximo de detalhes possíveis.
- Comentários irrelevantes não serão aceitos.