Apocalipse, Capítulo 16 Explicado


A devastação mundial causada pelas sete pragas

Versículos 1 e 2 — “E ouvi, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide e derramai sobre a terra as sete taças da ira de Deus. E foi o primeiro e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.”

    Este capítulo descreve as sete taças da ira de Deus, daquela já mencionada modalidade conhecida como “sem mistura de misericórdia”, e os efeitos produzidos ao serem derramadas sobre a Terra. Em primeiro lugar temos que saber: Qual é a verdadeira interpretação desses pontos? As pragas são simbólicas? Será que elas já se cumpriram? Ou serão literais e pertencem ao futuro?

    O tempo das pragas — A descrição da primeira praga revela com clareza o tempo em que cairá sobre a Terra, porque é derramada sobre os que têm a marca da besta e adoram a sua imagem, precisamente as coisas contra as quais nos adverte o terceiro anjo. Esta é uma prova concludente de que esses juízos não são derramados sem que o terceiro anjo termine a sua obra, e que a classe de pessoas que ouvem a sua advertência e a rejeitam são os que recebem as primeiras gotas das transbordantes taças da ira de Deus. Se essas pragas estão no passado, também precisamos situar a imagem da besta e a sua adoração no passado. Se essas coisas pertencem ao passado, a besta de dois chifres, que criou essa imagem, também está no passado. Se tal é o caso, então a mensagem do terceiro anjo, que nos adverte acerca desta obra, está no passado. E se ocorreu no passado, isto é, há muitas décadas ou alguns séculos, então a mensagem do primeiro anjo e do segundo pertencem também ao passado. Então os períodos proféticos, sobre os quais as mensagens estão baseadas, especialmente os 2.300 dias, terminaram há séculos. E se assim é, as setenta semanas de Daniel, capítulo 9, pertencem inteiramente à época judaica, e a grande prova de que Cristo é o Messias, fica completamente destruída. Mas ao comentar Apocalipse 7, 13 e 14, mostramos que a primeira e segunda mensagens foram dadas em nossos próprios dias; que a terceira está em processo de cumprimento agora; que a besta de dois chifres subiu ao cenário, e está se preparando para realizar a obra que lhe é atribuída; e que a formação da imagem e a imposição da sua adoração estão em vias de acontecer. A menos que todas essas afirmações possam ser desmentidas, as sete últimas pragas devem também ser inteiramente atribuídas ao futuro.
    Mas há outros motivos para situá-las no futuro, em vez de no passado. 
    Com a quinta praga, os homens blasfemam de Deus por causa das suas dores e chagas, sem dúvida as mesmas chagas ou úlceras causadas pelo derramamento da primeira praga. Isso demonstra que essas pragas caem todas sobre a mesma geração de humanos, sendo que muitos morrem à medida que esses flagelos se sucedem um ao outro, enquanto outros sobrevivem através das terríveis cenas.
    Essas pragas são o “vinho da ira de Deus sem mistura de misericórdia” [222], com o qual o terceiro anjo ameaçou o mundo (Apocalipse 14:10; 15:1). Semelhante linguagem não pode aplicar-se a quaisquer juízos sobrevindos à Terra enquanto Cristo intercede em favor de nossa família humana. Portanto, devemos situar essas pragas no futuro, quando houver terminado o tempo de graça.
    Outro testemunho mais definido acerca do começo e duração dessas pragas encontra-se nestas palavras: “O santuário se encheu de fumaça, procedente da glória de Deus e do Seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos [as sete pragas] dos sete anjos.” (Apocalipse 15:8). O santuário aqui apresentado é, evidentemente, o que é mencionado no capítulo 11:19, onde se diz: “Abriu-se, então o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da Aliança no Seu santuário.” Em outras palavras, temos diante de nós o santuário celestial. Quando os sete anjos com as sete taças de ouro recebem a sua missão, o templo está cheio com a fumaça da glória de Deus, e ninguém pode entrar no templo, ou santuário, até que os anjos tenham cumprido a sua obra. Não haverá, portanto, ministério sacerdotal no santuário durante este tempo. Por conseguinte, essas taças não são derramadas antes de ser fechado o ministério de Cristo no tabernáculo celestial, mas seguem imediatamente depois. Cristo já não é Mediador. A misericórdia, que durante tanto tempo deteve a mão da vingança, já não intercede mais. Os servos de Deus estão todos selados. Que podia, pois, esperar-se senão castigo e destruição para a Terra?
    Visto que esses castigos cairão num futuro muito próximo, ao manifestar-se o dia da ira, continuaremos investigando a sua natureza e o que ocorrerá quando sair do templo a solene e terrível ordem aos sete anjos, dizendo: “Ide, e derramai sobre a Terra as sete taças da ira de Deus.” Aqui somos convidados a olhar para o “arsenal” do Senhor, donde são tiradas “as armas da Sua indignação” (Jeremias 50:25). Dele são retirados os tesouros da saraiva [chuva de granizo], que têm estado reservados para o tempo da angústia, até o dia da peleja e da guerra (Jó 38:22 e 23).
    A primeira praga — “O primeiro anjo foi e derramou a sua taça pela terra, e abriram-se feridas malignas e dolorosas naqueles que tinham a marca da besta e adoravam a sua imagem.” (Ver também Zacarias 14:12).
    Não há motivo aparente para que esse evento não seja considerado estritamente literal. Essas pragas são quase idênticas àquelas que Deus infligiu sobre os egípcios quando estava prestes a libertar Seu povo do jugo da escravidão, e que ninguém [que crê de todo o coração nas Escrituras] põe em dúvida o fato de terem sido literais. Deus está agora prestes a recompensar Seu povo com a libertação e a redenção finais, e Seus juízos se manifestarão de um modo não menos literal e terrível. Não somos informados sobre a natureza das chagas ou úlceras. Talvez sejam semelhantes à praga de tumores que caiu sobre o Egito (Êxodo 9:8-11).
“É importante enfatizar que uma ‘praga’ não é geralmente uma epidemia que esteja no alcance da ciência controlar ou sujeitar. Ninguém poderá curar aquele que for ferido por essa praga da ira de Deus. [...] Certa manhã os que serão por ela atingidos acordarão com dores terríveis e verificarão o inchaço das úlceras apodrecendo seus próprios corpos.” [223] (trecho incluído pela editora Vida Plena)

Versículo 3 — “O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no mar.” — Nova Versão Internacional.

    A segunda praga — É difícil conceber substância mais infecciosa e mortal do que o sangue de um morto; e é certamente terrível o quadro evocado pelo pensamento de que as grandes massas d’água que são sem dúvida designadas pelo termo mar, hão de ser mudadas em semelhante estado com esta praga. Temos aqui o notável fato de que o termo “alma vivente” é aplicado a animais irracionais, como os peixes e criaturas vivas do mar. Este é, segundo cremos, o único exemplo de semelhante aplicação na Versão Inglesa, porém, no original ocorre frequentemente, mostrando que o termo aplicado ao homem no princípio (Gênesis 2:7) não supõe uma essência imaterial e imortal, chamada alma. (Trecho retirado na edições vida plena)
“Esta segunda praga, que será lançada no mar, produzirá uma enorme catástrofe. Todas as águas mundiais salgadas se transformarão em sangue. Logo após a morte o sangue se transforma quase imediatamente. Os glóbulos sanguíneos desaparecem. O plasma migra através das paredes dos vasos e penetra nos tecidos. O pouco de sangue que resta nas veias é escuro, viscoso e tóxico, carregado de cadaverina e putrescina, aminas tóxicas, resultantes da decomposição das proteínas. [...] Os animais marinhos morrerão. Por certo um odor pestilento e repugnante, levado pelos ventos, inundará o planeta em pouco tempo. A praga egípcia que transformou o Nilo em sangue nos dias de Moisés, fez com que o rio cheirasse mal. [...] Evidentemente, todo o tráfego marítimo ficará repentinamente paralisado.” [224] (trecho incluído pela editora Vida Plena)

Versículos 4-7 — “O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes de águas, e eles se transformaram em sangue. Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem. E ouvi o altar responder: Sim, Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.” — Nova Versão Internacional.

    A terceira praga — Tal é a descrição da terrível retribuição exigida pelo “sangue dos santos” derramado por mãos violentas, que será dada àqueles que cometeram tais ações. Ainda que os horrores daquela hora, em que os rios e fontes das águas se tornarão como sangue não possam agora ser imaginados, no entanto, a justiça de Deus será defendida e os Seus juízos aprovados. Ouve-se os próprios anjos dizerem: “Tu és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas; porquanto derramaram sangue de santos e de profetas [...]. Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.”
    Pode perguntar-se como se dirá que a última geração dos ímpios derramou o sangue dos santos e profetas, se os santos da última geração não devem ser mortos. Encontramos a explicação ao lermos Mateus 23:34 e 35; 1 João 3:15. Estas passagens demonstram que a culpa provém tanto dos motivos como das ações. Nenhuma geração jamais manteve uma atitude tão decidida de entregar os santos à matança indiscriminada, do que a última geração, num futuro não muito longínquo. (Ver os comentários sobre Apocalipse 12:17; 13:15). Na sua intenção e propósito, derramam o sangue dos santos e profetas, e são tão culpados como se tivessem executado suas perversas intenções. 
    Pode deduzir-se que ninguém da família humana sobreviveria a uma praga tão terrível como essa. Porém, deve ser de curta duração, como foi com a praga semelhante que caiu no Egito (Êxodo 7:17-21 e 25).
“Sendo o alvo da terceira praga, os rios e as fontes das águas verterão sangue de morto. Isto será uma calamidade inenarrável, incalculável. As feridas e os tumores da primeira praga produzirão febre alta e sede incontrolável, e não haverá água para suavizá-la. Até mesmo os poços conterão sangue. Ainda que cavem a terra em seu desespero, sangue brotará do seu interior. Será uma tragédia sem precedentes.” [225] (trecho incluído pela editora Vida Plena)

Versículos 8, 9 — “O quarto anjo derramou a sua taça no Sol, e foi dado poder ao Sol para queimar os homens com fogo. Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo se recusaram a se arrepender e a glorificá-lO.” — Nova Versão Internacional.

    A quarta praga — É digno de nota que cada praga sucessiva tende a aumentar a calamidade das anteriores e a intensificar a angústia dos culpados. Temos agora uma praga dolorosa e incômoda que causará dor aos homens, esquentando o seu sangue, e derramando sua influência febril através das suas veias. Além disso, têm apenas sangue para suavizar a sua sede ardente. E para piorar, é dado poder ao Sol, que derrama sobre eles uma inundação de fogo, de modo que se sentem queimados pelo grande calor. Mas, segundo o relato, sua dor tenta exprimir-se em horrendas blasfêmias.
    “Enquanto a segunda e a terceira pragas privam de água limpa os culpados, os quais ficam sem poder suavizar a cruenta febre, a quarta praga ativará ao máximo o poder desesperador da febre e da sede. [...] A quarta praga é um tipo de Bomba de Hidrogênio. A luz e o calor desprendidos do Sol em quantidades nunca vistas é fruto da desintegração do hidrogênio e sua reintegração em hélio. Quando a cortina [de ozônio, principalmente] que protege a Terra dos efeitos dos raios solares [da modalidade ultravioleta] for removida pela quarta praga, haverá uma terrível devastação, principalmente nas regiões onde o povo de Deus foi afligido, perseguido, e morto pela besta [e] sua imagem [...].” [226] (trecho incluído pela editora Vida Plena)

Versículos 10 e 11 — “O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino ficou em trevas. De tanta agonia, os homens mordiam a própria língua, e blasfemavam contra o Deus do céu, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram-se a arrepender-se das obras que haviam praticado.” — Nova Versão Internacional.

    A quinta praga — Um fato importante é estabelecido por este testemunho, a saber, que as pragas não destroem imediatamente todas as suas vítimas, porque algumas que foram primeiro feridas com chagas, ainda vivem ao ser derramada a quinta praga e mordem as línguas de dor. Uma ilustração dessa praga encontra-se em Êxodo 10:21-23. É derramada sobre o trono da besta, o papado. O trono da besta é onde se encontra a sede papal [a Santa Sé], que tem estado e continuará sem dúvida a estar, na cidade de Roma. O seu “reino” provavelmente abrange todos os que são súditos eclesiásticos do papa, onde quer que se encontrem.
    Como aqueles que dizem ter as pragas já ocorrido em algum tempo no passado consideram as primeiras cinco já completamente realizadas, perguntamos: Onde, nos tempos passados, os castigos aqui ameaçados foram cumpridos? Podem juízos tão terríveis ser infligidos, sem que ninguém o saiba? Se não, onde está a história do seu cumprimento? Quando é que uma chaga má e maligna caiu sobre uma parte especificada e extensa da humanidade? Quando é que o mar se tornou como o sangue de um morto, morrendo nele todo ser vivente? Quando é que os rios e fontes se converteram em sangue, e os homens só tiveram sangue para beber? Quando é que o Sol abrasou os homens com fogo até lhes provocar maldições e blasfêmias? E quando é que os súditos da besta morderam as línguas de dor e ao mesmo tempo blasfemaram de Deus por causa das suas chagas? Nessas pragas, diz a Inspiração, completa-se a ira de Deus, mas se caírem sem ninguém o saber, quem considerará a Sua ira tão terrível, ou evitará os Seu juízos quando são ameaçados?

Versículos 12-16 — “E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente. E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi saírem três espíritos imundos, semelhantes a rãs, porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo para os congregar para a batalha, naquele grande Dia do Deus Todo-poderoso. (Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas). E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom.”

    A sexta praga — Que é o grande rio Eufrates, sobre o qual esta praga é derramada? Dizem uns que se trata do rio Eufrates literal, que corre na Ásia. Outros dizem que é um símbolo da nação que ocupa o território pelo qual flui o rio. Esta última opinião é preferível por muitas razões:
     Seria difícil compreender o que se ganharia com o esgotamento do rio literal, visto que não ofereceria nenhum obstáculo difícil ao progresso de um exército em marcha. Deve notar-se ainda que o esgotamento ocorre para preparar o caminho dos reis do Oriente, isto é, a organizações bélicas regulares, e não a uma multidão mista e despreparada de homens, mulheres e crianças, como eram os filhos de Israel no Mar Vermelho ou no Jordão. O Eufrates tem apenas 2.200 quilômetros de percurso, ou seja a terça parte da extensão do Mississipi. Ciro, sem dificuldade, desviou o rio do seu leito no cerco de Babilônia. Durante as numerosas guerras que têm sido travadas ao longo das suas margens, muitos exércitos têm atravessado repetidas vezes as suas correntes, sem que jamais fosse preciso secá-lo para poderem passar. 
    Seria tão necessário secar o rio Tigre como o Eufrates, porque aquele é quase tão grande como este. Suas nascentes ficam apenas uns 25 quilômetros uma da outra, nas montanhas da Armênia, e o primeiro corre quase paralelo com o último, e apenas a uma curta distância dele através de todo o seu percurso. Todavia a profecia nada diz do rio Tigre.
     O esgotamento literal dos rios tem lugar sob a quarta praga, em que é dado poder ao Sol para abrasar os homens com fogo. Durante essa praga ocorrem, sem dúvida, as cenas de seca e fome tão vividamente descritas por Joel e, como resultado delas, expressamente se afirma que “os rios se secaram” (ver Joel 1:14-20). O Eufrates dificilmente poderá constituir uma exceção a este flagelo da seca; e pouca água ficaria para secar literalmente sob a sexta praga. 
    Estas pragas, pela própria natureza do caso, devem ser manifestações de ira e juízos sobre os homens; mas se o esgotamento do Eufrates literal é tudo o que se apresenta aqui, essa praga não constitui um acontecimento de grande gravidade.
    Com todas essas objeções contra a possibilidade de considerar aqui o Eufrates como um rio literal, tal coisa deve ser entendida de modo figurado, como simbolizando o poder que, ao começar este esgotamento, tenha o domínio do território banhado por esse rio. Todos concordam que esse poder foi a Turquia. Daí que podemos buscar o cumprimento das especificações dessa profecia em algo que afete diretamente a nação turca.
    O rio é empregado como símbolo em outros lugares das Escrituras. (Ver Isaías 8:7; Apocalipse 9:14). Com referência a este último texto, todos concordarão que o Eufrates simboliza o poder turco. Como é a primeira e última vez que esta palavra se apresenta no Apocalipse, é muito próprio considerar que conserva o mesmo significado em todo o livro.
    O esgotamento do rio seria, pois, a diminuição do império turco, a gradual redução de suas fronteiras. Isto é o que ocorreu literalmente. 
    Em seu apogeu, o império otomano se estendia para o leste até o Tigre e o mar Cáspio; para o sul até Aden, e incluía a Arábia, Palestina, Egito e Argélia. Ao norte abrangia o reino da Hungria, os países balcânicos, e a Crimeia. A Turquia guerreou repetidas vezes contra os mais poderosos exércitos da Europa, como Alemanha, Rússia e outras nações. Levou suas conquistas até o interior da Ásia, e recebeu o pedido de ajuda da Índia. Mas este poderoso flagelo da cristandade não superou os seus limites. Nos acontecimentos que produziram a crise de 1840, quase se desmoronou, e desde então tem estado decaindo rapidamente. Consideremos algumas de suas perdas.
    A Turquia perdeu o reino da Hungria em 1718; a Crimeia em 1774; a Grécia em 1832; a Romênia, Montenegro e Bulgária em 1878; Tripolitânia em 1912; Egito em 1914; a Mesopotâmia foi-lhe tirada pela Grã-Bretanha em 1917. Perdeu a Palestina em 1917; a Síria em 1918. Ao terminar a Primeira Guerra Mundial, o Dardanelos e Constantinopla foram internacionalizados, e a capital turca foi transferida para Angora. A Turquia recuperou dos gregos a Anatólia ocidental, inclusive Esmirna; recuperou a porção ocidental da Armênia e as fontes do Eufrates, como também sua antiga capital, Constantinopla [hoje Istambul], na Europa, e uma porção da Trácia; mas ainda assim resta pouco território a este império que uma vez foi tão poderoso. Seu domínio foi sendo reduzido província após província, até que lhe resta apenas uma sombra de suas antigas possessões. Por certo, a nação simbolizada pelo Eufrates está secando.
    Mas pode objetar-se a isto que, defendendo o sentido literal das pragas, fazemos de uma delas um símbolo. Respondemos, porém, que não. É verdade que, sob a sexta praga é apresentado um poder em sua forma simbólica, justamente como sob a quinta, onde vemos a sede da besta, que é um símbolo bem conhecido, ou como, sob a primeira, vemos o sinal da besta, sua imagem e sua adoração, que são também símbolos. Insistimos apenas sobre o sentido literal dos juízos que resultam de cada praga, que são literais neste caso como em todos os outros, embora as organizações que sofrem esses juízos possam ser apresentadas em sua forma simbólica.
    A batalha do Armagedom — Pode ainda perguntar-se: Como é que o caminho dos reis do Oriente será preparado pelo esgotamento ou destruição do poder otomano? A resposta é óbvia: Para que há de ser preparado o caminho desses reis? Para se reunirem na batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso. Onde será travada a batalha? A resposta do profeta é que o enfrentamento ocorrerá “no lugar que em hebraico se chama Armagedom”. Esse nome provém do antigo vale de Megido, onde nos tempos do Antigo Testamento foram travadas tantas batalhas decisivas, segundo atesta a história. 
    Sobre o nome Armagedom, diz Lyman Abbott, em um dicionário de conhecimentos religiosos:

“Este nome tem lugar na planície da Palestina central que se estende do Mediterrâneo ao Jordão, e separa as serras do Carmelo e de Samaria das da Galileia [...]. É a antiga planície de Megido, o Armagedom do Apocalipse 16:16.” [227]

    Acerca da importância deste campo de batalha, George Cormack diz:

“Megido é a chave militar da Síria. Numa época dominava o caminho rumo ao norte, Fenícia e Cele-Síria, e o caminho que cruzava Galileia a Damasco e o vale do Eufrates [...]. O vale de Kishon e a região do Megido eram campos de batalha inevitáveis. Através de toda a história conservaram esse caráter; ali se decidiram muitas das grandes contendas do sudoeste da Ásia.” [228]

    Admitindo que “Megido foi a chave militar da Síria” e que dominava os caminhos do Oriente Próximo, o leitor terá, contudo, interesse em saber por que, além da declaração profética direta de que a batalha final será travada ali, essa região tenha sido escolhida pelas nações da Terra como cenário do último grande conflito. Para responder a esta pergunta lógica submetemos as conclusões de outros escritores cujos anos de investigação acerca das razões sociais, econômicas e políticas que levam as nações a guerrear entre si, os fazem dignos de nossa consideração.

“Com a queda da soberania otomana [...] voltar-se-á a suscitar a eterna questão da posição da Ásia Menor. Esta terra é o corredor entre a Europa e Ásia, ao longo do qual passaram a maioria dos conquistadores europeus que invadiram a Ásia, com exceção apenas dos russos, e a maioria dos conquistadores asiáticos que invadiram a Europa.” [229]

    Notemos agora a opinião que H. Huntington Powers sustentou por muito tempo acerca de Constantinopla e seus arredores:

“Constantinopla, com seu estreito tributário, é o lugar mais estratégico do mundo [...]. Quando Napoleão e o czar Alexandre se sentaram em Tílsit para dividir o mundo, Alexandre disse a Napoleão, segundo se conta: ‘Deem-nos ou tirem-nos o que se quiser, mas deem-nos Constantinopla [atual Istambul]. Meu povo está preparado para fazer qualquer sacrifício por Constantinopla.’ Napoleão esteve inclinado longo tempo sobre o mapa, e logo se ergueu com decisão repentina, respondeu: ‘Constantinopla! Nunca! Significa o domínio do mundo.’ [...] Tanto os mercadores como os estrategistas consideram Constantinopla como a mais valiosa das possessões territoriais.” [230]

Lemos, além disso, sobre como o interesse do mundo foi transferido de Constantinopla à Turquia Asiática:

“O problema de Constantinopla tem deixado perplexo e angustiado o mundo durante muitos séculos. As nações disputaram numerosas guerras e sacrificaram inumeráveis vidas para possuir ou controlar essa gloriosa cidade e os admiráveis estreitos que separam a Europa da Ásia e que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo, o Oriente ao Ocidente, o mundo eslavo ao latino-germânico. Até aqui em geral se acreditava que uma tentativa de decidir a questão de Constantinopla levaria inevitavelmente a uma guerra mundial entre os Estados que pretenderam fazê-lo, pois seu acordo era impossível. Daí que os diplomatas olhassem com temor a questão de Constantinopla e a consideravam insolúvel [...]. No entanto, embora possamos alegrar-nos de que o sempre ameaçador problema de Constantinopla foi por fim eliminado, parece possível que outro problema, muito maior e perigoso, se levante quase imediatamente em seu lugar. A questão da Turquia Asiática está passando ao primeiro plano.” [231]

    Devido ao fato de que o território por tanto tempo ocupado pelos turcos domina as grandes rotas comerciais de três continentes, sempre foi cobiçado pelos que ambicionaram chegar a exercer o domínio mundial. A descoberta de grandes poços de petróleo no Oriente Próximo aumentou grandemente o desejo das nações para possuir a Ásia Menor e a região banhada pelo Eufrates. Na verdade as palavras de Jó 29:6: “e da rocha me corriam ribeiros de azeite”, não eram uma hipérbole, senão uma verdade literal, levando toda nação de primeiro nível a reconhecer que esses poços de petróleo, comparáveis aos do hemisfério ocidental, constituiriam uma possessão inestimável em mãos dos que queiram dominar o mundo comercial e militar.
    Mas por que os reis do Oriente haveriam de interessar-se nessa questão que afeta de modo definido o Oriente Próximo? Não nos esqueçamos que a história nos diz que três vezes o Oriente Próximo já foi invadido por conquistadores orientais e que essas incursões deram ricas recompensas aos invasores. Visto que todo o Oriente está em transe de renascimento, não é ilógico que seus governos cobicem o ouro líquido do vale do Eufrates.
    Em uma entrevista concedida pelo general britânico Sr. Ian Hamilton a Lingsbury Smith, correspondente da agência de notícias International News Service, enquanto o general Hamilton falava da ameaça que para a civilização ocidental e europeia representa a entrada asiática, predisse que “o lugar onde a Europa tente a deter a penetração asiática chegará a ser o último campo de batalha de todo tempo e indicará o fim da civilização.” Disse mais: “estudei cuidadosamente o mapa e o lugar mais propício para que a Europa faça frente e rebata a Ásia se chama Megido, ou, em alguns mapas, Armagedom.” [232]
    Esses escritos parecem dizer que, se exércitos poderosos como os que poderiam mobilizar “os reis da terra e do mundo inteiro” tivessem que se reunir em alguma parte situada entre o antigo vale do Megido e as vastas expansões do vale do Eufrates e da Ásia Menor, para travar a “batalha daquele dia do Deus Todo-poderoso”, se cumpriria a profecia no que se refere ao território designado pelo termo “Armagedom”.
    Durante séculos os territórios da Palestina e do Eufrates têm estado sob o domínio de governantes maometanos, responsáveis diante da nação turca. É, portanto, lógico crer que a Turquia chegará a seu fim antes que os reis da Terra façam desembocar seus exércitos naquele território. O fim da Turquia prepara o terreno para a batalha do Armagedom.
    Os três espíritos imundos — Outro acontecimento digno de nota sob esta praga é a saída dos três espíritos imundos a fim de congregarem as nações para a grande batalha. O movimento espalhado por todo o mundo, conhecido por espiritismo moderno, é, em todo sentido, um meio apropriado para a realização desta obra. Mas perguntar-se-á como é que uma obra que já está se realizando pode ser designada por aquela expressão, quando os espíritos só são apresentados na profecia por altura do derramamento da sexta praga, que é ainda futura. Respondemos que neste, como em muitos outros movimentos, os instrumentos designados pelo Céu no cumprimento de certos fins passam por um processo de preparação preliminar para o papel que hão de desempenhar. Assim, antes de os espíritos poderem ter uma autoridade tão absoluta sobre as nações, a ponto de reuni-las para a batalha contra o Rei dos reis e Senhor dos senhores, têm primeiro de ganhar terreno entre as nações da Terra e conseguir que os seus ensinos sejam recebidos como vindos de Deus, e que a sua palavra seja recebida como lei. Estão agora fazendo esta obra, e depois de terem ganho completa influência sobre as nações em questão, que instrumento mais apto poderá ser empregado com o fim de as congregar para um empreendimento tão arriscado e desesperado?
    A muitos poderá parecer incrível que as nações queiram empenhar-se numa guerra tão desigual como essa, de lutar contra o Senhor dos exércitos, mas uma das funções desses espíritos de demônios é enganar, pois se põem a operar milagres, iludindo assim os reis da Terra, para que creiam na mentira.
    Uma declaração feita por Sir Edward Grey, enquanto falava na Câmara dos Comuns [Grã-Bretanha], demonstra que alguns grandes estadistas reconhecem que os espíritos de demônios influem nas nações para atiçá-las à guerra. Ao descrever a ação destas forças, o ministro britânico de Relações Exteriores disse:

“É realmente como se na atmosfera do mundo operasse alguma influência maligna, que perturba e atiça a cada uma de suas partes.” [233]

    Ramsay MacDonald, duas vezes primeiro ministro da Grã-Bretanha, disse:

“Pareceria que estavam todos enfeitiçados, ou que operavam sob alguma condenação a eles imposta pelos demônios [...]. Os povos começaram a sentir que havia algo demoníaco nas operações que se realizam agora para acrescentar os exércitos, as marinhas e as forças aéreas.” [234]

    A origem desses espíritos indica que operarão no meio de três grandes divisões religiosas da humanidade, representadas pelo dragão, a besta e o falso profeta, ou o paganismo, o catolicismo e o protestantismo apóstata.
    Mas qual é a força da advertência feita no versículo 15? O tempo de graça deve ter terminado, e Cristo deve ter deixado a Sua posição de mediador, antes de as pragas começarem a cair. Após o início dos flagelos, os crentes ainda correm risco de cair? Deve notar-se que esta advertência é apresentada em relação com a obra dos espíritos. Deduz-se, portanto, que é retroativa, aplicando-se desde o tempo em que esses espíritos começaram a operar até o fim do tempo da graça. Pelo emprego do presente [am] em lugar do passado no tempo gramatical dos verbos, permissível no grego, a passagem corresponde a esta forma:
Bem-aventurado aquele que vigiou e guardou os seus vestidos, para que não andasse nu e não se vissem as suas vergonhas.
    “E os congregaram” — Quem são os mencionados aqui como “congregados”, e qual é o instrumento empregado para congregá-los? Se a palavra “os” se refere aos reis da Terra do versículo 14, não é um bom instrumento que irá congregá-los; mas se o sujeito do verbo “congregou” é “espíritos”, por que está o verbo no singular? O caráter peculiar desta construção tem levado alguns a ler assim a passagem: “E ele [Cristo] os congregou [aos santos] no lugar que em hebraico se chama Armagedom [a cidade ilustre, ou Nova Jerusalém]”. Mas esta interpretação é insustentável.
    Notemos o que a passagem diz exatamente. A palavra traduzida por “espíritos” é [pneumata], substantivo plural. De acordo com uma lei da língua grega, quando um substantivo plural é do gênero neutro, como [pneumata], exige que o verbo esteja no singular. Por conseguinte, no versículo 14, o verbo “sair” que tem os “espíritos” como sujeito, está no singular no original grego. Igualmente, quando a narração retoma depois do parêntesis da exortação do versículo 15, o verbo “congregou” está também no singular no grego para concordar com o “sair” do versículo 14, visto que os dois verbos têm o mesmo sujeito, a saber, os “espíritos”. Portanto, é muito razoável traduzir assim o versículo 16: “Eles [os espíritos] os congregaram [aos reis] no lugar que em hebraico se chama Armagedom.” Esta interpretação é a que tem sido seguida por muitas versões.
    “Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom”, diz a versão Almeida. Assim também dizem a Revised American Version [Versão revisada americana] e a tradução literal de Young. Portanto, é lógico concluir que as pessoas congregadas são os seguidores de Satanás e não os santos, e que [tal ajuntamento] se refere a uma obra dos maus espíritos e não de Cristo; e que o lugar onde se reúnem não é a Nova Jerusalém, para as bodas do Cordeiro, e sim o Armagedom (o nome de Megido) para a “batalha do grande dia do Deus Todo-poderoso”.

Versículos 17-21 — “O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu uma forte voz que vinha do trono, dizendo: Está feito! Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto. Nunca havia ocorrido um terremoto tão forte como esse desde que o homem existe sobre a terra. A grande cidade foi fracionada em três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. Deus lembrou-Se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do furor da Sua ira. Todas as ilhas fugiram, e as montanhas desapareceram. Caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos cada; eles blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga fora terrível.” — Nova Versão Internacional.

    A sétima praga — Assim descreveu a Inspiração o último castigo que há de ser imposto, no presente estado de coisas, sobre os que são incorrigivelmente rebeldes contra Deus. Algumas das pragas são locais em sua aplicação, mas esta é derramada no ar. O ar envolve toda a Terra. Segue-se que esta praga envolverá igualmente o planeta como um todo. Será universal. O próprio ar será mortal.
    A reunião das nações será produzida sob a sexta praga e a batalha será travada sob a sétima. E aqui são apresentados os instrumentos com que Deus exterminará os ímpios. Nesse tempo pode-se dizer: “O Senhor abriu o Seu arsenal e tirou dele as armas da Sua indignação” (Jeremias 50:25).
    A Escritura declara que se ouviram “vozes”. Acima de todas será ouvida a voz de Deus. “O Senhor brama de Sião e Se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do Seu povo e a fortaleza dos filhos de Israel.” (Joel 3:16; ver também Jeremias 25:30; Hebreus 12:26). A voz de Deus causará o grande terremoto, como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra.
    “E trovões e relâmpagos” — Esta é outra referência aos juízos do Egito (Ver Êxodo 9:23). A grande cidade é dividida em três partes, isto é, as três grandes divisões das religiões falsas e apóstatas do mundo (que é a grande cidade): o paganismo, o catolicismo e o protestantismo apóstata, que parecem ficar separados para receber cada um seu apropriado castigo. Caem as cidades das nações. A desolação universal espalha-se sobre a Terra. Todas as ilhas fogem e os montes não se acham. E Deus Se lembra da grande Babilônia. Leremos uma descrição dos seus juízos mais extensamente em Apocalipse 18.
    “E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva” — Este é o último instrumento usado na aplicação do castigo aos ímpios. Constitui os amargos resíduos da última taça. Deus solenemente Se dirigiu aos ímpios, dizendo: “Regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo.” (Isaías 28:17; ver também Isaías 30:30). O Senhor pergunta a Jó se viu os tesouros da saraiva, que Ele retém “até o tempo de angústia, até o dia da peleja e da guerra.” (Jó 38:22 e 23). 
    É dito que cada pedra era “do peso de um talento”. Segundo várias autoridades, um talento como peso, corresponde a cerca de 26 quilos [ou 35 quilos, de acordo com outras fontes]. Que poderia deter a força de pedras de tão enorme peso caindo do céu? Naquele tempo a humanidade não terá abrigo. As cidades ruíram num potente terremoto, as ilhas fugiram e os montes já não se veem. E outra vez os ímpios dão rédeas à sua dor com blasfêmias, porque a praga da saraiva é “muito grande”.
    Uma pálida ideia do terrível efeito da cena aqui predita pode deduzir-se da seguinte descrição de uma tempestade de granizo no [Estreito de] Bósforo, pelo Comodoro americano Porter: Diz ele: 

“Tínhamos talvez andado milha e meia, quando uma nuvem que se levantou no ocidente indicou que se aproximava chuva. Dentro de poucos minutos descobrimos que algo caía do céu em fortes pancadas de alvacento aspecto. Eu não podia entender do que se tratava, mas vendo perto algumas gaivotas, supus que eram elas que se precipitavam em busca de peixe, mas pouco depois descobri que se tratava de grandes bolas de gelo que caíam. Imediatamente ouvimos um som como de trovão ribombando, ou dez mil carros furiosamente rodando sobre o pavimento. Todo o Bósforo estava em espuma, como se toda a artilharia do céu tivesse sido descarregada sobre nós e nossa frágil máquina. Nosso destino parecia inevitável. Abrimos nossos guarda-chuvas para nos proteger, mas os blocos de gelo desfizeram-nos em farrapos. Tínhamos, por sorte, no barco uma pele de boi, sob a qual nos protegemos, salvando-nos assim de mais ferimentos. Um dos três remadores ficou com a mão literalmente esmagada. Outro ficou muito ferido no ombro. O Sr. H. recebeu uma pancada na perna. Minha mão direita ficou um pouco estropiada, e todos ficaram mais ou menos feridos.

Foi a mais espantosa e terrível cena que jamais testemunhei, e não permita Deus que eu volte a ser exposto a outra! Bolas de gelo tão grandes como os meus dois punhos caíram no barco, e algumas delas com tanta violência que certamente nos teriam partido uma perna ou um braço se esses membros fossem atingidos. Uma delas bateu na haste de um remo e fendeu-o. A cena durou talvez cinco minutos, mas foram os mais terríveis cinco minutos que jamais experimentei. Quando passaram, vimos os montes vizinhos cobertos de massas de gelo, pois que lhes não posso chamar saraiva, as árvores despojadas de suas folhas e ramos, ficando tudo desolado. A cena foi tão terrível que não tenho linguagem para descrevê-la. 

Já testemunhei repetidos terremotos. O raio brincou, por assim dizer, em volta da minha cabeça. O vento rugiu e as ondas um momento pareceram levantar-se ao céu e no momento seguinte arrojar-me num profundo abismo. Tenho estado em combate, e tenho visto a morte e a destruição em volta de mim em todas as suas formas de horror, mas nunca dantes tive o sentimento de terror que de mim se apoderou nessa ocasião, e que ainda por vezes sinto e receio nunca mais esquecer. O meu porteiro, o mais ousado da casa, que se aventurou a sair um instante fora da porta, foi lançado no chão por um bloco de saraiva, e se o não tivessem arrastado para dentro pelos calcanhares, teria certamente morrido assim apedrejado. Dois barqueiros foram mortos na parte alta da vila, e ouvi falar de muitos ossos partidos. Imaginai os céus subitamente gelados, e o gelo partido em pedaços de tamanhos irregulares com o peso de duzentos e cinquenta gramas a meio quilo, e precipitados sobre a terra.” [235]

    Leitor, se tais foram os efeitos de uma tempestade de saraiva, que desmoronou pedras do tamanho do punho de um homem pesando quando muito meio quilo, quem poderá descrever as consequências da tormenta vindoura, em que “cada pedra” será do peso de um talento? Tão certo como a palavra de Deus é a verdade, assim castigará Ele em breve o mundo culpado. Possamos nós, segundo a promessa, ter “moradas bem seguras” e “lugares quietos de descanso” naquela terrível hora (Isaías 32:18 e 19).
    “E saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está!” Assim tudo está terminado. Encheu-se a taça da culpa humana. A última alma valeu-se do plano da salvação. Fecharam-se os livros. Completou-se o número dos salvos. Pôs-se um ponto final na história deste mundo. As taças da ira de Deus foram derramadas sobre uma geração corrupta. Os ímpios beberam-nas até a borra [resíduos], e são retidos no reino da morte durante mil anos.
    Leitor, onde você quer estar depois dessa grande decisão?
    Mas qual é a condição dos santos enquanto está passando “o dilúvio do açoite”? Eles são o objeto especial da proteção de Deus, sem cujo conhecimento nem sequer um pássaro cai no chão. Muitas são as promessas dadas para nos confortar. Estão sumariamente contidas na bela e expressiva linguagem do salmista:

“Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nEle confiarei. Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas estarás seguro; a Sua verdade é escudo e broquel. Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia, nem peste que ande na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos olharás e verás a recompensa dos ímpios. Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.” (Salmos 91:2-10).

Referências bibliográficas

[222] “Vinho da ira [...] sem mistura” — “Os dados históricos sobre o preparo e uso do vinho pelos judeus e por outras nações no mundo bíblico mostram que o vinho era: (a) frequentemente não fermentado; e (b) em geral misturado com água.
    (1) Um dos métodos [de preparação da uva para ser posteriormente misturada com água] era desidratá-las, borrifá-las com azeite para mantê-las úmidas e guardá-las em jarras de cerâmica (Enciclopédia Bíblica Ilustrada de Zondervan, V. 882; ver também Columella, Sobre a Agricultura 12.44.1-8). Em qualquer ocasião, podia-se fazer uma bebida muito doce de uvas assim conservadas. Água era acrescentada a elas, e eram deixadas de molho ou na fervura. Políbio afirmou que as mulheres romanas podiam beber desse tipo de refresco de uva, mas que eram proibidas de beber vinho fermentado (ver Políbio, Fragmentos, 6.4; cf. Plínio, História Natural, 14.11.81).
    (2) Outro método era ferver suco de uva fresco até se tornar em pasta ou xarope grosso (mel de uvas); este processo deixava-o em condições de ser armazenado, ficando isento de qualquer propriedade inebriante por causa da alta concentração de açúcar, e conservava a sua doçura (ver Columella, Sobre a Agricultura, 12.19.1-6; 20.1-8; Plínio, História Natural, 14.11.80). Essa pasta ficava armazenada em jarras grandes ou odres. Podia ser usada como geleia para passar no pão, ou dissolvida em água para voltar ao estado de suco de uva (Enciclopédia Bíblica Ilustrada, de Zondervan, V. 882-884).
    (3) A água, portanto, pode ser adicionada a uvas desidratadas, ao xarope de uvas e ao vinho fermentado. Autores gregos e romanos citavam várias proporções de mistura adotadas. Homero (Odisseia, IX 208ss.) menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho. Plutarco (Symposíacas, III.ix) declara:
“Chamamos vinho diluído, embora o maior componente seja a água”. Plínio (História Natural, XIV.6.54) menciona uma proporção de oito partes de água para uma de vinho.
    (4) Entre os judeus dos tempos bíblicos, os costumes sociais e religiosos não permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não. O Talmude (uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a.C. e 200 d.C.) fala, em vários trechos, da mistura de água com vinho (e.g., Shabbath 77a; Pesahim 1086). Certos rabinos insistiam que, se o vinho fermentado não fosse misturado com três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros rabinos exigiam dez partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido.
    (5) Um texto interessante encontra-se no livro de Apocalipse, quando um anjo, falando do “vinho da ira de Deus”, declara que ele será “não misturado”, i.e., totalmente puro (Apocalipse 14:10). Foi assim expresso porque os leitores da época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água.” — STAMPS, Donald C. Bíblia de estudo pentecostal. São Paulo: Casa Publicadora das Assembleias de Deus. 1ª ed. 1995. p. 1573.
[223] MELLO, Araceli. As profecias do Apocalipse. São Paulo: N/D. 1ª ed. 1959. p. 466.
[224] Ibidem, p. 468.
[225] Idem.
[226] Ibidem, p. 469.
[227] LYMAN Abbott and T. J. CONANT, A Dictionary of Religious Knowledge, pp. 326, 327, verb. “Esdraelon”.
[228] CORMACK, George. Egypt and Asia, p. 83.
[229] J. B. Firth, The Fortnightly Review, maio, 1915, p. 795.
[230] POWERS, H. Huntington. The Things Men Fight For, pp. 74, 77.
[231] BARKER, J. Ellis. The Great Problems of British Statesmanship, p. 55.
[232] Journal of American, New York, 17/2/1938, p. 2.
[233] Sir Edward Grey, Times, de Londres, 28 de novembro de 1911, p. 13.
[234] MACDONALD, Ramsay. Citado em “Moção de Desarmamento do Partido Trabalhista”, Times, de Londres, 24 de julho, 1923, p. 7.
[235] PORTER, David. Constantinople and its Environs, vol. 1, p. 44.



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